Não tínhamos visto, mas a repercussão do Voz das Ruas foi além do esperado.
A WebRadio Estação Araucária também publicou nota sobre nosso projeto.
Veja no link: http://estacaoaraucaria.com.br/leitura_not.php?id_noticia=126

Ah, e comente!

Hoje, véspera da banca final do Experimental, encaminhamos um release ao site de notícias da cidade Rede Sul de Notícias. Segue abaixo a notícia e o link. A foto publicada é de uma visita ao Paz e Bem e não ao Jardim das Américas como está no site.

22/11/2010
Projeto objetiva dar voz aos bairros de Guarapuava

O Projeto Experimental “Voz das Ruas”, desenvolvido pelos acadêmicos do quarto ano de Jornalismo da Unicentro e orientado pela professora Ms. Ariane Carla Pereira, é uma tentativa de chamar a atenção da população de Guarapuava e da administração pública para o esquecimento de alguns bairros da cidade. Desde agosto deste ano, quatro acadêmicos de Jornalismo fazem visitas aos bairros Jardim das Américas, Paz e Bem e Xarquinho ouvindo os moradores e buscando respostas da Prefeitura e dos órgãos responsáveis sobre questões como saneamento básico, energia elétrica, educação, saúde, pavimentação, entre outros.
Partindo dessas visitas, o “Voz das Ruas” procura mostrar o sofrimento desses moradores e as iniciativas das associações de moradores para que esta realidade seja modificada. A denúncia desses problemas ocorre por meio de textos, fotografias e documentários, publicados no blog do Projeto e no canal do Youtube. Além disso, o perfil do Twitter é utilizado como forma de divulgação do projeto.
Segundo uma das acadêmicas responsáveis pelo projeto, Morgani Guzzo, a iniciativa tem como objetivo somente chamar a atenção para o esquecimento dos bairros, a mudança é papel de cada morador de Guarapuava. “Nosso papel como jornalistas é mostrar a situação que aqueles moradores vivem, mas cabe a cada morador de Guarapuava cobrar a solução dos órgãos públicos responsáveis. Os documentários e o blog mostram uma realidade de muito sofrimento, por isso, é preciso chamar a atenção da sociedade para que todos lutem juntos para devolver a dignidade a essas pessoas”.
O blog pode ser acompanhado pelo endereço http://www.avozdasruas.wordpress.com e no perfil do Twitter @vozdasruas. Para mandar sugestões e críticas, o e-mail do Projeto é vozdasruasgpva@gmail.com

http://www.redesuldenoticias.com.br/noticia.asp?id=32180

Projeto parte da iniciativa do Voz das Ruas

Publicado: 22/11/2010 em Sem categoria

O Projeto de Educomunicação, desenvolvido pelos acadêmicos do quarto ano de Comunicação Social – Jornalismo da Unicentro, intitulado “O Laço de Reparação: a Educomunicação e o Serviço Social atuando nos bairros de Guarapuava” foi desenvolvido a partir da iniciativa do Voz das Ruas.
Segundo as acadêmicas que desenvolveram o projeto, a ideia é unir a denúncia do esquecimento dos bairros da cidade à atuação dos assistentes sociais.
A oficina, ministrada no dia 05 de outubro de 2010, teve participação de alunos e grande interesse da professora Soeli Godoi do Departamento de Serviço Social. “Essa é uma iniciativa muito importante. Partindo dela, podemos avaliar a situação dos moradores de Guarapuava e buscar, dentro da nossa profissão, ações de enfrentamento desses problemas”.
A partir da oficina, o grupo de estudantes de Serviço Social criou o blog Metamorfoses Sociais que ainda está no começo. “A nossa ideia é transformar essa iniciativa em um projeto de extensão para 2011, que una estudantes de enfermagem, serviço social, educação física, história e de outras áreas do conhecimento para atuarmos efetivamente nessa realidade”, conta a professora.

O Projeto Voz das Ruas está vinculado ao blog Metamorfoses Sociais, que pode ser visto no endereço: http://www.metamorfosesociais.wordpress.com

Banca pública do Voz das Ruas

Publicado: 22/11/2010 em Produção

Neste dia 23 de novembro, o Projeto Experimental Voz das Ruas será avaliado junto à uma banca composta por três jornalistas: Edgard Cesar Melech, Guilherme Bittar e a professora orientadora do trabalho Ariane Carla Pereira.
A avaliação do Projeto será às 8h30 no Cinema da Unicentro. Todos estão convidados a conhecer melhor o trabalho desenvolvido. Até lá!

Hoje, em nossa última visita ao bairro Xarquinho, o cenário era completamente outro daquele das primeiras visitas. Passada a eleição, a sensação dos moradores era de abandono. Agora, a insatisfação era clara, e levada à frente pela moradora Adriana Ribeiro.
Ciente de que as promessas de regularização da invasão não seriam cumpridas, Adriana mobilizou seus vizinhos a fazerem um abaixo assinado, cobrando melhorias para o bairro. Adriana conseguiu várias assinaturas, e passou a freqüentar regularmente a prefeitura. Recebeu como resposta de que a luz e a água às famílias viriam ainda em novembro, boato desmentido pelo secretário de Habitação e Urbanismo, Francisco Andreata, em entrevista à nossa equipe.

Diante de tantos problemas, a solução encontrada por alguns moradores do Xarquinho é organizar atividades e ações entre eles, visando, se não a melhoria de vida das famílias, um momento agradável em que possam esquecer um pouco a situação triste em que vivem.

Adriana, por exemplo, é conhecida pelos moradores como uma das pessoas mais envolvidas nas questões do bairro. Em nossa segunda visita, perguntamos quem poderia nos dar uma ideia mais ampla sobre a situação do local e por unanimidade a moradora foi indicada.
Uma das ações de Adriana é a organização de uma feira para arrecadar brinquedos. Ela procura doações em todos os órgãos ou empresas da cidade, na esperança de tornar o Natal de muitas crianças mais feliz.
– A iniciativa é dos moradores. A prefeitura até ofereceu a Escola Total para realizarmos a feira, mas temos medo de eles dizerem que a promoção é do prefeito, por isso, não aceitamos – comenta.

Além das iniciativas, Adriana também tem uma percepção sensível sobre os moradores do bairro.
– As pessoas aqui sobrevivem porque são batalhadoras, porque para sobreviver na situação que nós vivemos aqui tem que batalhar muito.
Sobre as questões do bairro, Adriana conta que a situação não é fácil, principalmente durante a noite.
– É muito escuro. Olha, para você sair aqui à noite é complicado. O gás, para você ter uma ideia, não vem; depois que anoitece eles já avisam a gente: “Em qual tua você mora?”, eles perguntam. “Moro em rua tal” a gente responde. “Gás para você só até as 6h da tarde”.
Adriana também comenta que os taxistas também não passam pelo bairro à noite. Mesmo quando se tem uma emergência, os moradores são orientados pelos motoristas a encontrar o taxi em certos locais, onde o próprio taxista não corra riscos.
– Não é possível que as pessoas não vão ter os diretos e não vai ter alguém que nos ouça. Uma hora alguém vai ouvir o nosso grito de socorro. Por que, na verdade, é um grito de socorro aqui! – desabafa.

O Xarquinho, além do Paz e Bem e Jardim das Américas, possui áreas que não são regularizadas: terrenos ocupados por centenas de famílias mas que, por não terem regulamentação junto à prefeitura, não recebem investimentos e nenhuma melhoria.

Estes locais, chamados terrenos de invasão, constituem a principal causa dos problemas relacionados pelo nosso projeto. A situação mais calamitosa é encontrada nestes locais, onde as famílias necessitam suprir necessidades básicas como saneamento, água, energia elétrica, sem contar a pavimentação e iluminação pública, que geralmente falta em todo o bairro.

No Xarquinho, mais de 300 famílias vivem em locais de invasão. Essa área, que começa exatamente ao lado das novas construções do bairro – Escola Total, praça com parquinho para as crianças, etc – destoa completamente da percepção geral do bairro.

Em nossa segunda visita, ontem, conhecemos diversas famílias que vivem em uma situação completamente desconfortável. Além de não possuírem rede de esgoto – problema de todos os moradores de todos os bairros conhecidos pelo Voz das Ruas – as famílias não possuem dinheiro fazer fazer uma fossa, não possuem energia elétrica e a água também não é um recurso fácil.

Entrada do local de invasão no Xarquinho. Mais de trezentas famílias sofrem com a falta de regulamentação dos terrenos.

– Não tem luz nem água – conta a moradora Rosalina Silva.
– Como vocês fazem para cozinhar? – perguntamos.
– Cozinhar tem que ser cedo, de dia ainda né. Porque se não, tem que usar umas três velas, aí não dá. Então tem que jantar cedo – conta.
– É uma área muito grande que não tem energia elétrica, não tem saneamento… Não tem água, na verdade. Não tem água nem luz – conta o presidente da Associação de Moradores, Luiz Antônio Ribeiro.

Sem regulamentação não tem saneamento, nem luz e nem água no bairro.

Segundo o gerente regional da Sanepar em Guarapuava, Álvaro José Argemiro da Silva, nem saneamento nem água encanada podem chegar a esses moradores antes que a Prefeitura regularize o terreno.
– Nós não podemos fazer nenhum projeto antes que o terreno esteja legalmente regularizado, com os documentos em dia. E isso é de responsabilidade da Prefeitura.

Para o presidente da Associação de Moradores, a expectativa é que a partir da agora os terrenos sejam regularizados.
– Então, é uma área muito complicada, justamente por ser invasão. Agora a gente espera que melhores, porque a regularização dos terrenos já é um passo para que aquele local se desenvolva – comenta.

Para o Secretário da Habitação e Urbanismo, Francisco Andreata, é preciso, antes de tudo, fazer um plano de ações para saber quando essas famílias serão beneficiadas com a regulamentação dos terrenos. Somente a partir daí será possível pensar em colocar luz e água nas casas.
– Nós ainda estamos fazendo o planejamento, para ver em que bairro será começado as obras primeiro. Tem que se estruturar as ruas, regularizar os terrenos. Só depois desse planejamento que a gente pode dizer quando que essas pessoas vão ser beneficiadas – explica.

– É luz, é água, é asfalto. Pra nós aqui é um sofrimento! – inicia a moradora Rosalina Silva.
– Luz, água, essas coisas que a gente espera e estamos rezando para que venha logo. Chega de sofrer! – desabafa Rosana Padilha, outra moradora insatisfeita.

Segundo os moradores, sem água, muitas mães precisam ir até um Rio para lavar as roupas das crianças.

Como já abordamos nos textos anteriores, a situação dos terrenos que ficam nos locais de invasão do Xarquinho é extremamente precária. A falta de energia elétrica e de água é o principal fator.
– A água é indispensável né!? Você não pode fazer nada sem água. Tem situações que as mulheres vão lavar a roupa no rio que tem lá embaixo, porque não tem água para lavar a roupa das crianças. Às vezes você vê uma criança suja, bem suja, e já pensa mal daquela mãe, mas não sabe que não tinha água para lavar a roupa dela – comenta Adriana Ribeiro.

Para conseguir fazer comida, lavar roupas e tomar banho, os moradores dos terrenos de invasão do Xarquinho utilizam uma torneira pública.
– A água aqui é de uma torneira pública, que fica ali pra cima, que a gente tem que ir buscar água lá – conta Rosana Padilha.
– Essa água é da torneira pública, tem dias que a gente tem, tem dias que não tem – explica Rosalina.
– É complicado. Você veja no inverno, as crianças, coitadinhas, tem que tomar banho na água fria, né. Não é fácil. – lembra Marli Terezinha Galvão.

A ausência de água e saneamento básico nas casas do Xarquinho se justifica, segundo a Sanepar, pela falta de regulamentação dos terrenos.

A falta de saneamento e água nas casas se justifica pela falta de regulamentação dos terrenos.

As placas da Prefeitura – instaladas em toda a cidade na época de campanha eleitoral -, os programas na TV e as notas nos jornais, deixam claro que Guarapuava está crescendo, que a infraestrutura está sendo melhorada e as obras estão à todo o vapor.
A placa do Xarquinho diz: “Pavimentação no Bairro Xarquinho”, obras relacionadas à “comemoração” de “Guarapuava 200 anos”.
Tudo bem até aí.
Entrando no bairro, a idéia que se tem é que, realmente, o asfalto será realidade em breve: pedras, amontoadas ou espalhadas por cima do chão de terra, se encontram em diversas ruas.

A pavimentação é uma questão constante nas reclamações de todos os moradores dos bairros visitados. No Xarquinho, no entanto, apesar de parecer que as obras estão à todo o vapor, a questão é mais complexa.
– Aqui é muito difícil, as crianças vão para a escola nos dias de chuva e voltam cheias de barro – conta a moradora Rosalina Silva.
Nos locais chamados de “invasão” as obras nem começaram.
– Nós temos bastante problema. Por exemplo aqui, as pessoas asfaltam pra lá e pra gente fica muito difícil até para as crianças saírem. Muito ruim esse barro aqui – diz a moradora Marli Terezinha Galvão.

Além da situação dos locais de invasão, outras ruas que são regularizadas encontram problemas semelhantes com a pavimentação. Mas, ao invés de barro, o problema são as pedras.
– A gente fica sofrendo com uma pedreira dessa aí, que não tem condições. Tem vezes que a gente sai de chinelo, sai de carro corta os pneus… Tem muitos idosos que tem dificuldade para andar, tem que ficar procurando acostamento de terra para caminhar – relata o morador Augustinho Oliveira.
As enormes pedras da rua em frente à sua casa se tornaram um problema maior do que quando a via era de terra. Segundo ele, as obras pararam após a eleição.
– Não vi mais nenhum trator aqui depois do dia 3 [de outubro] – disse.

Para os pedestres, fica difícil transitar e, para os carros, quase impossível.
Segundo o presidente da Associação de Moradores, o Toninho, as obras estão mesmo paradas.
– Tá tudo parado lá. Se nós formos percorrer hoje o bairro, aquelas pedras que estão lá, muitas pessoas já reclamaram para mim que está cortando pneu do carro, tem pessoas de cadeira de rodas que não podem andar naquelas pedras porque o pneu já está todo cortado. E está lá, né.
Além do transtorno que as pedras esparramadas causam para a população, ainda há outra questão: com a falta de saneamento, quando for feita a rede de esgoto, todo o asfalto terá que ser quebrado.
– Você vê agora que foi colocado o asfalto aqui, sem saneamento básico. Isso aqui vai ter que ser quebrado depois. É dinheiro nosso que está sendo jogado fora – avalia o ex-presidente da Associação de Moradores, Everaldo Moraes.
O atual presidente da Associação concorda:
– O que conta mais é o visual, não o necessário. Por exemplo, o saneamento. Não adianta fazer o asfalto e depois quebrar. Então, a prioridade seria o saneamento básico, só que o saneamento não aparece, né, então fica mais fácil colocar o asfalto.

Batendo sempre na mesma tecla

Publicado: 03/10/2010 em Xarquinho

Bater de porta em porta nas casas dos moradores se tornou uma coisa natural para este grupo de quatro quase-jornalistas. Abordar as pessoas enquanto lavam suas roupas, limpam a casa ou cuidam das crianças sempre nos pareceu um pouco invasivo, mas foi a maneira que encontramos de conhecer a fundo a realidade de cada bairro.

Na tarde nublada da nossa primeira visita ao bairro Xarquinho encontramos Milton Xavier, um senhor de aproximadamente 50 anos que abriu as portas de sua casa para contar sua história no bairro.
– A nossa comunidade aqui é bastante difícil – inicia ele.
Sentado em uma cadeira na varanda de sua casa, sr. Milton abordou diversas dificuldades que os moradores do Xarquinho encontram no dia-a-dia: falta de iluminação pública, os problemas da área de invasão, a falta de creches, a situação do Posto de Saúde do bairro, entre outros.
– Aqui é complicado. O PS ali da Rua dos Pinheiros, você vai lá e não tem nem médico. Médico tem, mas você chega lá e ele ainda tem dúvidas se te dá o remédio.
O Posto de Saúde do Xarquinho, segundo o presidente da Associação de Moradores do bairro, Luiz Antônio Ribeiro, o Toninho, não consegue atender à demanda da população. Além disso, a população ainda reclama da falta de estrutura para os pacientes que precisam ficar nas filas.
– Posto de saúde tem, mas a gente carece muito de mais médicos. Mas não clínicos gerais, que chegam lá e fazem um exame geral nos pacientes, precisamos de médicos especialistas – declara Toninho.
Para os moradores, o maior problema está na estrutura.
– Você imagina, as pessoas já vão lá porque estão doentes, aí chega lá e tem que ficar na fila até abrir o posto. Só que é tudo aberto, se estiver chovendo, a pessoas tem que ficar na chuva – conta Juarez Dias da Luz, morador.

Apesar das reclamações sobre o Posto de Saúde, a estrutura do Xarquinho não parece tão precária quanto nos outros bairros visitados pelo Voz das Ruas. Aparentemente, a existência de uma Escola Total, asfalto e praças em alguns locais do bairro faz com que a percepção da situação vivida pelos moradores fique um pouco deturpada. Ali, a questão não é simplesmente a falta e precariedade de estrutura, mas a demanda da população.
– Aqui não tem creche, a mais próxima é a do Bairro Primavera. Só que a população do Xarquinho é enorme e acaba superlotando a creche do Primavera. Essa também é uma questão essencial – comenta Toninho.
Para uma população de mais de 10 mil habitantes, a existência de uma creche própria do bairro, com estrutura que suporte tantas crianças é necessidade básica.
– O pior aqui é a falta de creche, nunca teve uma creche aqui no bairro. Faz 20 anos que eu moro aqui e nunca fizeram nada. É complicado, o pessoal se bate, como eu, que sempre trabalhei, agora parei para ficar com as crianças, não tem onde deixar – reclama a moradora Janete Aparecida Souza.
– Essa é uma questão muito séria. Eu trabalho, mas não tem como pagar pra alguém ficar com as crianças. Imagina para uma mãe, que tem que ir até lá no bairro Primavera levar o filho antes de ir trabalhar. Às vezes trabalha aqui, tem que ir até lá e voltar. E quando está chovendo, dia de muito frio… e quando não tem dinheiro para pagar ônibus, que tem que ir à pé, com criança no colo… – desabafa Adriana Ribeiro, moradora.

Saúde e educação: a população sempre batendo na mesma tecla. O que falta para o poder público enxergar e solucionar esses problemas?

Xarquinho: uma esperança

Publicado: 02/10/2010 em Xarquinho

O terceiro e último mês do projeto começou e o terceiro e último bairro a ser visitado é o Xarquinho.
Quando decidimos que este seria um dos bairros abraçados pelo projeto, pensamos não somente nas dificuldades que a população enfrenta, como em qualquer um dos bairros, mas na desigualdade tipicamente guarapuavana que o bairro apresenta.
O Xarquinho tem entre 10 e 12 mil habitantes. É o maior bairro da cidade e sempre recebeu investimentos diversos. Pelo seu tamanho, a estrutura encontrada ali é a de uma cidade: é preciso de escolas, creches, postos de saúde, pavimentação, energia elétrica, saneamento básico… No entanto, como foi possível perceber até o momento, nem toda a população da cidade tem o mesmo tratamento e, no Xarquinho, esse abismo não é diferente.

Apesar da aparência, algumas regiões do bairro mostram o abismo enorme entre aqueles que vivem e aqueles que sobrevivem no bairro. Foto: Debora Fuzimoto

Hoje amanheceu com céu nublado. Como havíamos marcado com o presidente e vice-presidente da Associação de Moradores do bairro, não deixamos de nos arriscar: fomos à nossa primeira visita. Ao chegarmos lá, ficou evidente o tamanho do bairro, proporcional ao tamanho do trabalho que teríamos durante este mês.
O vice-presidente da Associação de Moradores conversou conosco e nos mostrou um pouco do bairro. Não quis gravar entrevista, mas nos contou que a situação do bairro é muito diferente daquela que, muitas vezes, é divulgada nos noticiários locais ou pela própria prefeitura.
O contraste entre a área regulamentada do bairro e a área de “invasão” é enorme, mas, mesmo contrastante, não quer dizer que a situação de uma das partes do bairro seja excelente, apenas não é tão precária quanto a dos moradores dos terrenos invadidos.
O vice-presidente da Associação de Moradores comentou sobre a falta de iluminação pública, problema que, segundo ele, é o pior fator para a existência da violência no bairro. Os moradores que conseguimos conversar antes que começasse a chover identificaram outros problemas, ligados, principalmente, à área de invasão.
No entanto, o que mais nos marcou nesta primeira visita foi a esperança. Quase todos os moradores do Xarquinho têm fé nas promessas feitas pelo Prefeito Fernando Ribas Carli. Em uma reunião recente, Fernando prometeu resolver os problemas de iluminação, água e esgoto de vários moradores. Eles se mantém na espera.

Promessas x realidade

As obras e o desenvolvimento do bairro, amplamente mostrado pela administração municipal, definitivamente não condiz com a situação geral que encontramos. A estrutura da Escola Total contrasta com os barracos situados logo ao lado, construções estas que sequer são regularizadas pela prefeitura. Se a aparência em alguns aspectos vem sendo melhorada pela atual gestão, o consenso entre os moradores é que as prioridades devem ser revistas.
No auge das campanhas eleitorais, as promessas de candidatos a deputado estadual e federal já haviam surtido efeitos nos moradores. Ao conversarmos com alguns deles, notávamos esperança de que a situação melhoraria. As ruas, antes de terra, agora eram cobertas por pedras, e deveriam se tornar asfalto em breve. Outros cidadãos haviam recebido a notícia de que seus terrenos virariam lotes, seriam regularizados.
A pobreza de muitos moradores, no entanto, parecia não ser motivo de tanto otimismo. E, apesar de alguns problemas terem sido resolvidos pela prefeitura, outros foram criados. Foi feita a pavimentação onde não existe esgoto e, se a rede finalmente for feita, o asfalto terá de ser quebrado.

A chuva começou e nos impediu de prolongar o dia de trabalho. No entanto, possibilitou que pudéssemos nos deparar com a lama que se forma em várias ruas, dificultando o acesso da população.
Apesar do pouco tempo que estivemos lá – geralmente nossas visitas duram em torno de 4 horas – a percepção era que o mapeamento não seria fácil. Além disso, a situação que encontramos em algumas regiões do bairro em nada se diferenciavam da condição vivida nos outros bairros visitados pelo Voz das Ruas.
As primeiras entrevistas foram de uma população sofrida, como nos outros bairros, mas a principal diferença era que ali a esperança era uma chama acesa e forte.